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AVANT-GARDE TOKIO

1978 | nasce a banda Yellow Magic Orchestra (Y.M.O.) com o seu 1º álbum “Yellow Magic Orchestra”
1979 | nasce o Walkman I | lançado o 1º single do Y.M.O. “Technopolis”
1980 | lançado o 2º single do  Y.M.O. “Rydeen”
1981 | nasce o Walkman II, o modelo que efetivamente “estourou” no mercado | a Comme des Garçons começa a apresentar sua coleção em Paris

“TOKIO, TOKIO… T. E. C. H. N. O. P. O. L. I. S., TOKIO…” transmitia para o mundo a voz de Ryuichi Sakamoto deliciosamente deformada pelo vocoder na faixa “Technopolis”, sucesso estrondoso de 1979 de Yellow Magic Orchestra. Não era 東京 (tou-kyou), e sim TOKIO (to-ki-ô). era o mesmo ano em que nascia o Walkman, aquele aparelho que revolucionou a maneira com que ouvimos música. Dois anos depois, uma outra revolução parte daquela Technopolis para o mundo, mais precisamente o da moda. A Comme des Garçons apresenta pela primeira vez a sua coleção na semana de moda de Paris em 1981, gerando um mar de controvérsias com suas roupas predominantemente pretas e de siluetas folgadas e assimétricas, numa época em que a moda feminina era concebida exclusivamente para ser sexy, colorida e “bonita”.

Há trinta anos, de uma cidade borbulhante do Extremo Oriente eram emitidos sinais de uma revolução em várias frentes que mudariam para sempre o estilo de vida das pessoas. Era o surgimento de um Japão que, passados os anos do alto crescimento econômico dos anos 60 e 70, subitamente tinha algo a dizer. Andando pelas ruas de Tóquio hoje, é muito fácil encontrar os vestígios de como esses vanguardistas moldaram a paisagem urbana dessa cidade.

Originalmente, a palavra “avant-garde” se refere ao batalhão de frente de uma tropa numa ação militar, aquele que avança corajosamente à frente para que o resto o siga com segurança. É exatamente no mesmo sentido que, a partir do Século XIX, o termo começou a ser usado dentro dos domínios da cultura. Avant-garde são os artistas e pensadores que, estando à frente da maioria, exploram terrenos novos com trabalhos inovadores e experimentais, guiando a cultura de seu tempo e muitas vezes promovendo uma profunda transformação social.

Ora, foi precisamente isso que aconteceu quando a Sony lançou o Walkman, o pequeno aparelho que cabe no bolso que permite que estejamos sempre com a nossa música a tiracolo, onde e quando quer que estejamos. Havia coisa mais atraente do que isso na época? A música era excitante, os jovens viviam a cultura da música intensamente e se pudessem, queriam ouvir música o tempo inteiro, até quando faziam jogging (era a febre do momento). O Walkman II, com seus headphones cor de laranja, realizou o nosso desejo e ainda por cima nos deu algo a mais, o tal do fashion appeal, tão importante naquela Technopolis. O sucesso não se conteve só em Tóquio, espalhando-se para todo o Japão, para os Estados Unidos e para o mundo. Surgia então um hábito antes inexistente, que é o de ouvir música individualmente e de maneira portátil. Uma revolução e tanto. Tanto foi que as outras empresas de áudio foram obrigadas a seguir o mesmo caminho. Até hoje a Sony lança seus novos modelos de Walkman, com tecnologia digital e design inovador. Sem dúvida, sem a criação da Sony, não teríamos a mesma paisagem de Tóquio de hoje, com jovens andando com headphones na cabeça como parte de seu estilo, tanto de vida quanto de moda.

O que Y.M.O., como o Yellow Magic Orchestra é mais conhecido, fez em seus cinco anos de vida, não só para o mundo da música mas também para o da moda e comportamento, não foi tão diferente. A banda de techno-pop de Ryuichi Sakamoto, Haruomi Hosono e Yukihiro Takahashi, sacudiu a cena musical japonesa com sua música ultra moderna usando e abusando do sintetizador e do computador, algo completamente novo naquele cenário da época. Mesmo fora do Japão, exceto pelo alemão Kraftwerk, era muito raro. Porém, a começar pelo nome, estava claro que Y.M.O. não era uma cópia da banda alemã. Yellow magic se referia a algo que não era nem magia negra nem magia branca, se posicionando como uma música feita por “amarelos”, criando uma música própria, moderna e tecnológica.

A banda inovou também na maneira de se apresentar no palco, com maquiagem, headphones e a enorme aparelhagem de sintetizadores. Seu conceito visual debochava a visão estereotipada que os ocidentais tinham dos orientais. O extraordinário é que a música deles era complexa e avançada o suficiente para influenciar o que viria a ser o hip hop e a música eletrônica e mesmo assim, teve uma aceitação maciça do povo japonês, desde crianças até os mais velhos. O sucesso foi tão grande que até o seu corte de cabelo, apelidado de techno cut, era copiado por muitos. Até na minha classe do último ano da escola primária (eu frequentava a escola primária pública Shinno, no bairro de Shirogane em Tóquio), tinha um menino com esse penteado.

A banda levou uma onda de fenômeno techno à sociedade japonesa. Não por acaso, o progresso tecnológico japonês na eletrônica, liderado pela Sony, estava em plena ebulição e como resultado, o Japão ganhou uma grande confiança naquilo que produz e lança para o mundo. O made in Japan agora era um selo de garantia de qualidade.

Esse vídeo é histórico e hilário! Vale à pena assistir apesar da péssima qualidade de audio e video.

Se a banda da magia amarela virou objeto de culto e continua influenciando novas gerações de músicos mesmo depois de um quarto de século após o seu fim (apesar de os três músicos frequentemente colaborarem em produções novas e apresentações com outros nomes), Rei Kawakubo reina até hoje no exercício do vanguardismo no mundo da moda. Quando estreou sua marca de roupas Comme des Garçons na semana de moda de Paris em 1981, os críticos e fashionistas em choque reagiram chamando a sua coleção desconstruída de Hiroshima chic e “pós-atômico”. Se a imprensa especializada não entendeu suas roupas um tanto masculinizadas, rasgadas e cheias de furos, o público aderiu em cheio, encontrando finalmente uma roupa confortável capaz de expressar uma individualidade e algo a mais do que simplesmente a beleza pré-estabelecida. Os anos 80 viriam a ser justamente a década da individualidade e a Comme des Garçons de Kawakubo abriu terreno para tal expressão através da roupa, alterando para sempre a paisagem da moda. Se na época era difícil conceber uma roupa para o dia inteiramente preta, hoje já é a coisa mais normal do mundo, graças à sobreposição do preto sobre preto que Kawakubo propôs. Isto é apenas um exemplo de sua enorme influência, que segundo o designer norteamericano Marc Jacobs, todo mundo sofreu, incluindo Jil Sander e Miuccia Prada, sem se esquecer dos belgas que vieram depois da onda japonesa como Ann Demeulemeester e Martin Margiela.

Passada a década da individualidade, a marca da atualmente sexagenária estilista atravessou os anos 90 com o mesmo vigor criativo, sempre inovando seus conceitos não só na coleção como também na imagem da marca como um todo, no design das lojas, na publicidade e até nas sacolas e embalagens nas quais os clientes carregam para casa as suas compras. Cultuada por uma enorme legião de fãs entre celebridades, fashionistas e público comum, entrou no século XXI como um gigante do vanguardismo fashion japonês, experimentando novos caminhos de existência com as guerrila stores (copiadíssimas por outras marcas) que têm prazo de validade de um ano nos locais mais inusitados para uma boutique em diversos países, com o Dover Street Market em Londres e com a criação de marcas de estilistas (Junya Watanabe e Tao Kurihara) que trabalhavam sob Kawakubo, dentro do mesmo guarda-chuva Comme des Garçons. Surpreendentemente, depois de 40 anos criando roupas, as coleções de Rei Kawakubo ainda hoje são ansiosamente aguardadas e alvo de muita atenção pela crítica na semana de moda de Paris.

Eu vi duas vezes a Rei Kawakubo andando nas ruas de Tóquio, surpreendentemente exatamente no mesmo lugar, atravessando a mesma Avenida Omotesando. Ela é magrinha e minúscula, anda rápido como todo mundo na cidade. Dentro daquele corpo leve e pequeno carrega um espírito gigante.

Texto originalmente escrito em agosto de 2009 como parte de um projeto cultural que não foi realizado.

on the move

NEXT no Lobito, Angola

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Show da banda angolana NEXT no Lobito acontece amanhã, dia 31. O Lobito é uma cidade praiana angolana no município de Benguela.

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i dream

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love song

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Discology!

Noites como a de ontem curam qualquer dor no coração. Saí feliz da vida às 6 horas da manhã da festa que comemorou 6 anos de vida, a Discology, da minha querida amiga Cláudia Assef e do Camilo Rocha. Diz que a Clau cantou duas músicas, mas perdi…

Música boa não tem preço, época ou gênero, mesmo. Marky fez a pista tremer com seu set e com sua incrível energia e felicidade. Dançar aquelas músicas com os amigos renovou meu espírito e talvez o do Michael, que recebeu várias homenagens, nas pistas de cima e de baixo!

Marky em ação

Marky em ação

Tô em Luanda!

Rulio Rulez

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Eu juro que não é porque ele é meu amigo. Mas talvez por isso ele seja meu amigo. Entre outras razões, é claro. André Juliani (DJ, músico e produtor) é dono de uma sensibilidade incrível e o resultado disso é esse “RULIO” EP em formato CD que foi lançado recentemente, com 6 faixas originais. As faixas são incríveis e o CD ficou lindo, com arte do também amigo Hugo Frasa, artista e produtor igualmente incrível. Sempre passei muito mal com os DJ sets do André, desde a época do PIX, melhor clube que São Paulo já teve!! Ele sempre arrasa e é sempre muito fiel ao seu próprio gosto e sensibilidade, sem nunca dar ouvidos pra tendência alguma, o que pra mim é uma dádiva! Eu não vou conseguir escrever sobre ele melhor do que esse texto aqui, para quem não o conhece. Mas consigo dizer, além de toda a qualidade musical, o quanto ele é fofo, engraçado e querido.

Ah, o CD não está a venda, que pena né. Tem que ganhar do próprio ou ter ido no lançamento. Mas dá pra ouvir algumas faixas aqui no MySpace dele, inclusive umas que não estão no EP. Destaque pro “Witchcraft XXX”. TUDO.

rulio_ep_verso

para um dia das mães mais groovey